"A vida em um breve comentário"

"Pare e pense."

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Aquilo que nunca acontece

Suas unhas laranjas escrevem mais do que a própria consciente poderia querer.Há tempos figura aquele olhar morto em sua face,um sorriso sem força,estampado,marcado,para todos que por ventura quisessem ver.Sua vida há tempos já não é a mesma,ela sente que seus sonhos e suas vontades estão por aí,ela sente falta daquilo que ela,por alguma razão,nunca pode ter.
O calendário já não é mais complascente com ela, e os ponteiros do relógio parecem já ter lhe dado um ultimato,ela corre,corre sem nem ao menos saber o porque.Suas pernas estão cansadas,e o pouco esforço que faz já não lhe vale de nada,o tic-tac do relógio soa em seus ouvidos cada vez mais agudo,ela não dorme.Ela não acorda.Não anda comprindo seus compromissos como devia,tudo o que hoje ela faz,nota-se em seu rosto que ela está sempre querendo aquele algo mais,que há um tempo dela se perdeu.
Seus olhos quando adolescentes,se marejaram tanto,que hoje adulta,ela não sabe mais como é chorar.Condenada ao comum,pensa ela devo estar,ela se apavora,ela está se tornando no que ela temeu por toda sua vida se tornar.Tic tac,e seus sonhos lhe parecem ainda mais distantes a cada segundo que o ponteiro em alto som vai a passar.
Ela procura diversão,mas ela sabe que desse jeito nunca achará.De repente a vida parece um fardo quase impossível de em suas costas carregar,pega na gaveta aquele revólver,que comprara naquela tarde,conta um,dois,três e...olha para a parede de seu quarto,e vê um velho quadro que ela mesma pintou quando criança.Suas mãos soam e seus dedos tremulam sem força para apertar o gatilho que,acabaria com todo aquele vazio nela.No quadro uma pontezinha,e ela se lembra do dia em que pintara o tal quadro.Tinha oito anos e sua tarefa de casa de artes era reproduzir uma tela de Monet.Ela se lembra,na época se encantara por Monet,e seu quadro mais célebre,o da ponte de sua casa, resolveu pintar.
Passado o flashback de mais de doze anos atrás,ela em choque ainda olha para o quadro e começa a chorar,um choro estranho,não de alívio.Um choro angustiado,o choro daqueles que imploram por um motivo para viver,aquele choro que se você nunca se sentiu depressivo a tal ponto,nunca irá entender.Ela está sozinha,ela chora porque,se lembra de quando viver era algo tão fácil e tão suave como as obras de Monet.Um dia,há muito tempo ela fora feliz.
Pegou os comprimidos no criado mudo e tomou cuidadosamente,fazia quase dois meses que estava tomando os remédios,que não pareciam fazer efeito algum.Na bagunça de sua vida,várias vezes se sentira perdida,mas vazia,daquele jeito,nunca.Isso há de ter solução,há de ter uma,Deus não é possível,pensa ela todo dia ao acordar.
Outro dia vira na rua o que fora o grande amor de sua vida,desviou de seu caminho.Não que ainda o amasse,seu ressentimento era maior que sua falta de amor agora por ele.Sua vida e seus amores mal sucedidos.Literamente falando,pois,nenhum chegou as vias de "suceder" de fato.Ela nunca soube o que era ser amada,não por quem ela queria.Isso magoa demais,não há dor de amor pior que esta,não há mal na vida pior que este.Quantas vezes ela não consolou amigas,que bem ou mal,despedaçadas ou feridas,viveram pelo menos,uma ilusão a dois.Quantas vezes ela não sonhou com coisas fúteis e telefones bobos,quantas vezes ela não quis morrer de amor.
Parou para pensar ainda com o revólver na mão,se não foi isso o que a deixou tão desiludida com a vida em si.Não ela não admitiria nem as paredes algo tão estúpido assim.
Resolveu que o final seria adiado,sem data definida para acontecer.
Ah,e resolveu mudar de psiquiatra.

Nenhum comentário: