"A vida em um breve comentário"

"Pare e pense."

domingo, 14 de setembro de 2008

Obrigada por fumar

Sentada em um banco azul,daqueles de ponto de ônibus, ela está.Olha pra esquerda furtivamente,parece acordar afinal,seria seu ônibus?Não, alarme falso,mais um dos milhares ônibus que não passam na famosa avenida de seu curso ,ela com expressão de extremo aborrecimento lança uma olhadela ao relógio prateado no pulso direito.Realmente não era seu dia.Demorara horas na noite anterior para adormecer,seu estômago parecia pulsar,pensara até que seu coração se deslocara de lugar,pois,as contrações eram fortes, ácidas e entorpecedoras.Acordou com uma ligeira dor de cabeça, que aumentava vertiginosamente a medida que ela se movimentava em direção ao seu banheiro.Tomou um banho rápido,a água bem quente caía sobre seu rosto,ficou assim por alguns instantes,sentindo o calor envolvente,passava as mão sobre o corpo massageando-o,tentando afastar os vastos e frenéticos pensamentos que serpenteavam e disputavam espaço em sua cabeça.Fechou a torneira,não cantarolou e nem ao menos escreveu frases fúteis no vidro do box de vidro transparente.Não.Ela simplesmente sacou sua toalha e mergulhou seu rosto sobre ela,fungou profundamente o perfume floral nela contido,talvez assim com a tola esperança de que com isso inalaria também,um pouco de ânimo com aquela essência reconfortante.Saiu do banheiro e o ar frio lhe causou calafrios,se trocou rapidamente.Foi pra cozinha e a caneca com o cafè com leite santo de todos os dias estava lá,no mesmo lugar de sempre á direita no balcão da cozinha.Sua mãe lhe serve o pão e junto com ele as habituais perguntas pertinentíssimas matinais.Responde sem vontade,esboça um sorriso fraco para a mãe,e pede que se cessem as peguntas,sua cabeça ainda lateja.Na colher caem vinte e cinco gotas,de sabor lastimável,nem ao comprimido tem direito,comprimidos agridem o estômago sempre diz sua mãe.Uma careta de criança inevitável ao sentir o líquido cortar sua garganta,bebe um gole apenas de água para seu doce refresco,um gole ao menos,graças a Deus!
Ela pega a mochila,três esborrifadas de perfume no pescoço,duas nos pulsos,pega o celular e confere se o cartão do ônibus está no bolso da calça,coloca os fones no ouvido e os óculos,a cabeça continua latejando,quantos segundos,minutos e horas o bendito líquido amargo iria demorar para dar efeito?Desce as escadas,sedentária,só mesmo as escadas para lhe salvar.Sobe a rua,ao som de músicas de batidas conhecidas e envolventes,divertidas ou tocantes.Olha para atrás,sua mãe acena de longe do prédio.Ofegante ao topo da rua vê seu ônibus ao longe no ponto,tenta correr, não alcança,ótimo!Vai se atrasar.Emburrada,porém conformada,ela decide se sentar no último banco azul do ponto.Sente o tão conhecido cheiro da fumaça de tabaco e nicotina,olha para o lado e vê um moço,cara de novo, impunhando seu cigarro de forma quase que teatral.Se não estivesse espirrando repetidamente em função da fumaça e sua rinite matinal,ela riria bem alto diante daquela visão tão bizarra,não,ela riria pra si,não é nem de olhar pra ninguém na rua sozinha.Mas com certeza riria,nem que disfarçasse.O protótipo de James Dean em "Rebelde sem causa",ao menos a divertiu,e como de costume,ela tentou meio que em canto de olhos analisar o moço,sem olhar,ela faz uma linha discreta,mas sua curiosidade late.Com o nariz vermelho,no melhor estilo daquela famosa rena natalina,ela continua a olhar de canto de olhos o garoto dos cigarros e ele continua com sua pose de rock star,ele parecia confiante,como se seu cigarro lhe proporcionasse uma segurança que,sem ele não existia.Entretanto ele podia me fazer o pequeno favor de baforejar essa fumaça seca e tóxica um pouco mais longe de mim,ironicamente pensou.Ah,mas com certeza,e obrigada por fumar.

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